Médicos que atendem em SP contam histórias passadas em consultório. Profissionais, no entanto, dizem que não dá para ficar igual a outra pessoa.
Quanto mais tempo de profissão, mais histórias um bombeiro, professor ou jornalista têm para contar. Com cirurgião plástico não é diferente. Acostumados a receber pacientes com os mais diferentes objetivos, médicos que atendem em São Paulo contaram ao G1 alguns dos pedidos curiosos que já chegaram aos seus consultórios.
Em um dos casos, o cirurgião plástico Alan Landecker foi pego de surpresa ao ver que a paciente carregava o tronco e a cabeça de um manequim de vitrine. Como determina a ética médica, os nomes não podem ser revelados, mas o médico conta que a mulher acomodou a boneca ao lado e anunciou o pedido: “Ela queria ficar com o nariz igual ao da manequim”, diz.
Esse não foi o único pedido inusitado já ouvido pelo cirurgião Landecker, que é membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP). Outra paciente levou até o seu consultório uma televisão para que ele assistisse ao vídeo onde estava gravada uma festa da família dela.
“Ela chegou com um aparelho de TV e um videocassete no carrinho, pediu para ligar e me mostrou uma cena em que ela aparecia, em um relance, de perfil. A cena não durava segundos. Tanto que eu não conseguia ver a imagem direito porque ela não conseguia dar pausa no momento exato”, relembra.
Celebridades em evidência também costumam ser citadas em consultórios. A foto gera
lmente vem acompanhada de um “Doutor, eu quero o meu mais ou menos assim”. “É comum uma pessoa dizer que quer o nariz da Xuxa, por exemplo”, conta o cirurgião plástico Vitório Maddarena Jr, membro da SBCP.
A boca da apresentadora Ana Maria Braga, o nariz da atriz Claudia Raia e os seios da apresentadora Sabrina Sato são alguns detalhes de celebridades que costumam ser citados pelas pacientes com o intuito de dar ao médico a ideia do que elas querem para o próprio corpo.
“As comparações são usadas tanto para o que querem quanto para o que não querem. A boca de Angelina Jolie, por exemplo. Muitas mulheres qu
erem uma parecida e outras dizem logo que não querem ficar igual a ela”, exemplifica Maddarena.
O nariz do cantor Michael Jackson é outro detalhe frequentemente citado em consultórios quando o pedido é “não quero ficar parecida com essa celebridade”.
Autoimagem
Apesar das histórias serem curiosas, querer ficar igual a uma pessoa famosa ou ter o mesmo nariz de um manequim de vitrine pode esconder não um problema estético, mas psiquiátrico. A doença, de acordo com o cirurgião plástico Landecker, é conhecida como desmorfismo corpóreo.
“É quando a pessoa nunca se sente satisfeita com o próprio corpo”, esclarece. Essa insatisfação, complementa o médico, não passa mesmo com várias cirurgias plásticas seguidas. O tratamento nesses caso não é por meio do bisturi, mas na cadeira do psiquiatra. "É o cirurgião plástico quem reconhece o problema".
Levar a foto de uma celebridade ao consultório também divide os médicos. Alguns cirurgiões plásticos aproveitam a indicação do paciente para tentar entender detalhes do que a pessoa deseja, já outros preferem que o paciente não tenha nenhuma outra referência de corpo que não seja do dele mesmo.
É o caso do cirurgião plástico André Freitas Colaneri, que também é membro da SBCP. Para ele, “conversando com o paciente, é possível tirar todas as informações necessárias”. O médico conta que até mostra fotos, mas apenas do “antes e depois” de outros pacientes submetidos ao mesmo procedimento.
De forma geral, com foto ou sem foto de celebridade, os cirurgiões plásticos seguem regras muito bem definidas do que pode ser feito ou não no rosto ou no corpo de um paciente. “Não adianta chegar com um edredom e querer que saia daí um lençol de seda”, exemplifica Colaneri, mostrando que tudo depende do corpo - a matéria-prima - de cada paciente.
“O trabalho do cirurgião é mostrar ao paciente que há uma série de detalhes a serem observados. O que o médico faz é buscar a harmonia entre o que a pessoa quer e o que pode ser feito”, esclarece Maddarena.
Portanto, adiantam os médicos, nem adianta criar expectativa para ter um corpo ou rosto igual ao da Gisele Bündchen. “Se fosse possível, eu faria uma [Gisele] para mim”, brinca Colaneri.