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4 de novembro de 2014

Revista da TV: Entrevista com La Raia


RIO — “O grande ator é o ótimo ladrão. E eu roubo mesmo”, surpreende Claudia Raia. Ao falar das inspirações para compor a médium trambiqueira Samantha, de “Alto astral” — nova novela das 19h, que estreia nesta segunda, dia 3, na Globo —, a atriz conta ter usado características da guru Cristina Fadul, que está com ela há 30 anos, da filha Sophia, de 11 anos, e até do namorado, o ator Jarbas Homem de Mello.

— Assim como a Cristina, Samantha fala com os espíritos, ouve vozes. Peguei a malemolência, essa coisa exagerada. A única característica que ela não tem igual é o charlatanismo. Tem um pouco também da minha filha, que fala coisas hilárias do tipo: “Escuta, quéeerida”. Uma bobagem, mas é um charme. E, do Jarbas, roubei a frase “Hashtag fica a dica!”.

A personagem, conta Claudia, tem a pegada de Whoopi Goldberg no filme “Ghost”.

— Durmo tendo sonhos de como devo fazer meus projetos. De repente, tenho uma luz, mas, isso não acontece para minha vida pessoal — diverte-se a atriz, que é budista e se diz sensitiva apenas para assuntos relacionados à carreira.

Na trama escrita por Daniel Ortiz, Samantha fica famosa após prever um deslizamento de terra, soprado em seu ouvido por um espírito. Ela salva uma multidão de uma catástrofe. Mas faz uso errado do seu dom e perde os poderes. Deslumbrada, continuará vivendo de truques, fingindo psicografar e até escrevendo livro.

— Ela tem tudo para ser uma vilã, mas é adorável. Tudo que ela arma, dá errado. Um golpezinho torna-se uma grande cagada. É confusa, atrapalhada, sacana, mas não é má, horrorosa. O Rômulo, meu cabeleireiro, outro dia falou: “Tadinha da Samantha!”. E eu estava fazendo algo terrível em cena. É porque ela é muito carismática. Não tem como não gostar — defende Claudia.

Samantha é ainda perdidamente apaixonada por Caíque (Sergio Guizé), com quem já teve um envolvimento no passado. Ele é médico, mas tem pavor de sangue. E também possui dons paranormais, conversa com espíritos, e irá se interessar pela jornalista Laura (Nathalia Dill), noiva de seu irmão, Marcos (Thiago Lacerda). No desespero, Samantha tenta se aliar ao ex para prolongar seus 15 minutos de fama.

— Ela quer que eles sejam o Brad Pitt e Angelina Jolie da paranormalidade. Deseja que os dois formem um grande casal para ficar famosa, porque ela é uma rica falida. Mas gosta dele, e não é só tesão não, é algo que mexe com os dois. Eles são muito engraçados porque Guizé é praticamente um Jerry Lewis, faz o mocinho às avessas, meio perdedor — classifica.


A atriz adianta que Samantha vai manipular o mocinho.

— Ela também aprontará horrores com a personagem da Nathalia para tirá-la do caminho.

A decadência de Samantha será visível. E estará presente até nos figurinos, assinados por Beth Filipeck, segundo a atriz.

— As referências são todas espirituais e a roupa é vintage. Tem um pouco de Marrocos, Índia, junto com algo velho. É quase uma figura brecholenta, mas tem um ar chique para mostrar um poder que já teve. Samantha usa drusas de cristal, ametistas. Tem tudo ali, catolicismo, judaísmo — lista.

Até de ser descoberta como uma farsante, Samantha já terá vivido uma fase áurea, de glamour. No passado, a sensitiva chegou a se sentar no sofá do “Programa do Jô” e esteve no palco do “Domingão do Faustão”. Os apresentadores farão participações na trama. Para a atriz, a amizade com os dois ajudou na hora de gravar as cenas. Ela já atuou ao lado de Jô no humorístico “Viva o gordo”, nos anos 1980, e foi namorada dele na vida real.

— Foi uma grande brincadeira. Não sabia como me comportar porque eles são muito amigos, e sempre vou aos programas como Claudia, não de Samantha. Com o Jô, foi mais no improviso. Ele perguntou para a personagem se o Brasil ia ganhar a Copa, e ela não falou nada, saiu sem responder. Gravei com Jô no retorno dele, depois daquele susto da internação — conta Claudia, adiantando que a trambiqueira ainda irá ao “Mais você”, de Ana Maria Braga.

Para gravar a novela, a atriz viajou com a equipe para Poços de Caldas (MG), que serviu de cenário para a fictícia Nova Alvorada da trama. O lugar bucólico, que ela diz parecer uma cidade cenográfica tamanha a perfeição, despertou recordações do passado da atriz, que passava férias por lá com a família quando era criança:

— Foi uma emoção gravar lá. Quando a gente foi fazer a cena do cassino, me lembrei muito daquele lugar, quando eu e meus pais íamos almoçar, tomar chá da tarde, fiquei meio mexida, e minha mãe, que tem 91 anos, também. Ela quase mandou beijos para Poços de Caldas, foi bem legal, uma lembrança que vou guardar no coração.


Apesar do trabalho na TV, Claudia consegue acompanhar de perto os filhos, Enzo, de 17 anos, e Sophia. E se desdobra para fazer aulas de balé, sapateado e ainda treinar crossfit com o primogênito. A atriz conta ter chegado aos 47 anos sem crises.

— Outro dia minha filha falou que não mudei quase nada com o passar dos anos. Eu disse: “Yes!”. Mas é claro que hoje vejo rugas que não via antes. O HD revela até aquilo que a gente não vê no espelho normal, mas tudo bem, até porque estou muito bem de saúde. Claro que não sou uma pessoa que começou a se cuidar agora. Eu me cuido desde sempre, dormindo bem e comendo de forma saudável. E surte efeito.

Ao falar sobre o futuro profissional dos filhos, Claudia revela que a família deve ganhar novos artistas, embora ainda diga ser cedo para uma decisão definitiva.

— É emocionante ver a Sophia dançar, me enxergo muito nela, que é bem parecida comigo fisicamente. Ela diz que não quer ser bailarina, não é como eu, que comia e bebia dança. Mas tem uma alma exibicionista, e acho que vai escolher uma profissão que se exiba. Já Enzo é um músico talentoso, toca cinco instrumentos, e está no processo de escolha da faculdade — detalha.

No teatro, a atriz está às voltas com dois espetáculos que irá produzir. Um deles, que conta a vida de Charlie Chaplin através de seus filmes, terá o namorado, Jarbas, no papel principal. No outro, “Raia 30 anos”, ela irá atuar. Será uma grande celebração da sua carreira, com texto de Silvio de Abreu e direção de José Possi Neto, Jorge Fernando e Miguel Falabella, os homens de sua vida, diz Claudia.

Incansável, a atriz ainda quer montar uma exposição dos 30 figurinos mais importantes da carreira e um livro contando sua trajetória no teatro musical:

— Resisti um pouco. Pensei: “Vou produzir algo sobre a minha vida?”. Mas todo mundo falou e topei. Com certeza, terá a Tancinha e a Engraçadinha (personagens da novela “Sassaricando”, de 1987, e da minisssérie “Engraçadinha: seus amores e seus pecados”, de 1995). Mas o espetáculo não é uma colagem, tenho horror, acho cafona. Decidimos fazer 60% de memórias revisitadas, e não é nada do jeito que era, e, sim, como vejo hoje em dia aquilo que fiz. E 40% serão da Raia de agora em diante.

Claudia diz viver uma fase alegre. E se derrete ao falar do namorado, com quem tem uma relação que ultrapassou o campo profissional e afirma, é algo “maior do que um casamento”.

— Estamos num momento muito feliz. Ele é um grande companheiro de vida. Digo que é mais que um casamento, é estar junto com alguém. Eu acho mais forte.