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1 de maio de 2013

Entrevista para a Revista Marie Claire

Trinta anos de carreira. Oito filmes. Nove espetáculos teatrais. Trinta e quatro trabalhos na TV. Dois filhos, dois ex-maridos e um novo amor. Aos 46 anos, Claudia Raia conta que experimentar novidades é “excitante”. A intérprete da vilã Lívia Marini, de Salve Jorge, novela que entra na reta final este mês, diz desejar o pior para sua personagem: “Que seja punida e sofra por amor”. A atriz, agora, está com a cabeça e o corpão no musical Crazy for You, que estreia em outubro, ao lado do namorado Jarbas Homem de Melo.




Loucuras por amor ela jura que não faz. No máximo, comete uns “exageros”, como anunciar no programa do Chacrinha o primeiro casamento, em 1986, com o ator Alexandre Frota. A relação durou três anos. O segundo casamento, com o ator Edson Celulari, durou quase duas décadas. É ele o pai de seus dois filhos, Enzo, de 15 anos, e Sophia, de 10. O casal se separou amigavelmente em 2010. Traumas? Ela garante que nenhum. Tanto que logo se apaixonou novamente, dessa vez por um amigo, o bailarino Jarbas Homem de Melo, seu partner no musical "Cabaret" (2011). Os primeiros a saber foram seus filhos. “Contei tudo a eles. Expliquei quem ele era, de onde vinha. De início, ficaram enciumados. Hoje estão amigos.” Foi apenas após abrir o jogo para eles que o casal apareceu aos beijos em locais públicos. Em outubro, estarão novamente juntos em cena, no espetáculo de sapateado Crazy for You. Enquanto não estreia, Claudia esbanja maldades na novela "Salve Jorge", em que interpreta a vilã Lívia Marini.

Encontrar um espaço em sua agenda no final das gravações é difícil. Mas quando Claudia quer, acontece. A atriz recebeu a reportagem de Marie Claire nos estúdios do Projac-RJ. Pessoalmente, ela é expansiva e carismática, do tipo que domina a cena. Difícil imaginá-la frágil. Cláudia nasceu em Campinas, interior de São Paulo, numa família de mulheres talentosas. A mãe, Odete, bailarina e maestrina, ficou viúva quando a filha tinha só 4 anos. Para criar Cláudia e sua irmã, Olenka, abriu uma academia de dança. Foi ali que a futura atriz cresceu. Logo no início da carreira, como bailarina, conquistou bolsas para estudar nos Estados Unidos e na Argentina. Aos 13 anos, foi morar em Nova York, onde ficou por quatro anos. Estreou na TV assim que retornou, ao lado de Jô Soares (com quem também namorou) no programa "Viva o Gordo", da Rede Globo. Em 1985, ganhou o primeiro grande papel em uma novela, "Roque Santeiro", como a divertida bailarina Ninon, que lhe rendeu o prêmio de revelação feminina pela APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) e o Troféu Imprensa como revelação do ano. Logo depois, fez o Brasil morrer de rir nos tempos de "TV Pirata", consagrando-se como uma das atrizes mais versáteis da TV. Paralelamente, virou a grande estrela de musicais no teatro. Aqui, ela fala dos amores, de carreira, inveja, dinheiro, beleza e medo de envelhecer. E de como faz para manter a pele sempre impecável e o coração apaixonado como o de uma adolescente de 12 anos.


MARIE CLAIRE Foi esquisito beijar outro homem depois de 17 anos com o mesmo parceiro?
CLÁUDIA RAIA Muito esquisito. Só não foi mais, porque o Jarbas já era meu amigo e a coisa aconteceu de um jeito natural, quase uma brincadeira. Mas, depois de um longo casamento, saber que existe um mundo novo pela frente é muito excitante.

MC Quem deu o primeiro passo?
CR Eu, mas o Jarbas me deu abertura. Já éramos amigos, então a coisa foi virando uma amizade colorida. Não foi algo de supetão.

MC Qual é a diferença de idade entre vocês?
CR Ele é apenas três anos mais novo, tem 43. Sempre me interessei por homens mais velhos, mas o Jarbas é muito maduro. Veio do sul do País com 24 anos e batalhou a vida dele sozinho. O que mais me encanta nele é sua grande autoestima e o humor. Com ele, tudo vira piada. Somos parecidos. No coração, tenho uns 12 anos!

MC De zero a dez, qual a importância do sexo para você?
CR Dez. Quando vai embora o desejo, vai embora tudo. Você vira irmão, amigo, menos marido e mulher. Desejo é fundamental. Sexo morno não tem graça.

MC Qual foi a primeira vez em que você se achou bonita?
CR Quando eu era jovenzinha, ouvia as pessoas dizendo que a minha irmã mais velha, a Olenka (52 anos), era linda. Eu era chamada de talentosa (risos). Eu era feia mesmo. Na adolescência, era toda desengonçada. Hoje em dia, acho que meu conjunto funciona bem. Se eu fosse um homem e me visse na rua, diria: “Que mulher interessante!”. Mas linda, definitivamente, não sou. Fiquei mais confiante quando fiz o espetáculo "Chorus Line" (1984) e passei a receber a aprovação das pessoas.

MC É verdade que suas pernas são seguradas em 1 milhão de dólares?
CR Eu adoraria... Vinte anos atrás, uma empresa de seguros que me patrocinava no teatro fez uma apólice nesse valor, como marketing. O contrato durou um ano, mas a história ficou no inconsciente coletivo. Mas minhas pernas ainda batem um bolão (risos).

MC Como recebeu as críticas feitas à vilã de Salve Jorge?
CR Foi a primeira vez que fiz uma mulher tão gélida, cortadora de pescoço. No começo as pessoas diziam: “A Cláudia está dura, engessada”. Mas foi assim que a autora a construiu. Muitas pessoas acharam aquela cena cena de assassinato com uma seringa inverossímil  mas ela foi baseada num fato real. A Lívia Marini se sente acima do bem e do mal.


MC E você? Como lida com seus sentimentos menos nobres?
CR Já senti raiva e ciúme, como qualquer um. Mas nunca alimentei essas emoções. Além disso, tenho uma natureza generosa, gosto de cuidar das pessoas. Faço terapia há 13 anos.

MC E o que uma mulher tão resolvida leva para a análise?
CR Você não consegue mudar o que viveu, mas pode administrar a própria história a seu favor. É essa a minha busca. Perdi meu pai aos 4 anos e cresci sem uma figura masculina por perto, por exemplo. Ele morreu vítima de um infarto fulminante. Eu me espelhei no lado guerreiro da minha mãe e da minha avó e fui à luta. A análise também me ajudou bastante depois da separação, especialmente em relação às crianças.

MC O que você descobriu a respeito de casamento?
CR Que liberdade é fundamental. Se você não pode dar um grito, pegar a bolsa e ir para a China – porque isso não foi incluído no acordo –, quando percebe, está presa dentro de um molde.

MC Qual foi o motivo de sua separação?
CR Edson e eu nunca brigamos. Juntos, éramos muito bacanas, torcemos um pelo outro. Mas acabou a poesia. Passamos algum tempo tentando resgatá-la. Não conseguimos.

MC O que se perde e o que se ganha com uma ruptura amorosa?
CR No começo, eu não ganhei nada, só perdi. Estava acostumada com a presença dele, via o sofrimento dos meus filhos, foi duro. Você tem de aprender a recomeçar. Eu nunca pensei que um dia iria me separar do Edson, não concebia a ideia. A sensação, então, foi de pena. Não uma pena de mim ou do Edson, mas por não ter durado mais tempo. Os ganhos vão chegando aos poucos.

MC O que você diria às mulheres que estão passando por esse tipo de situação?
CR Vai passar. Todo mundo me dizia isso e eu perguntava: “Quando?”. Hoje, posso garantir que a dor passa. Mas não adianta tentar antecipar esse processo. Hoje, somos amigos, ele vai lá em casa pegar as crianças quando quer, é ótimo pai.


MC Depois disso, ainda acredita no casamento?
CR Acredito. No meu primeiro casamento, com Alexandre Frota, nós éramos jovens demais, não sabíamos lidar com o ciúme (tempos depois da separação o ator declarou que era mulherengo e consumia drogas). O segundo como Edson foi maravilhoso. Continuo romântica. Não tenho traumas.

MC Como você reagiria ao saber que um parceiro teve relações com alguém do mesmo sexo antes de entrar na sua vida?
CR Nunca perguntei a algum namorado com quem ele já transou. Acho isso cafona. Se a pessoa está comigo por livre e espontânea vontade, e se esse relacionamento está bacana, não importa com quem ela tenha feito sexo antes.

MC Você é bem-sucedida. Não tem medo da inveja alheia?
CR Sou do tipo que acredita que, com uma vela acesa e a força do pensamento, você mata uma pessoa (risos). Mas não compactuo com a inveja. Quando sinto uma coisa pesada, faço uma oração.

MC Parece tão forte.O que poderia abalar você?
CR A mentira. Eu me sinto invadida quando surgem boatos falsos sobre minha vida, sobretudo se afetar pessoas da minha família. Minha reação é silenciar.

MC Já teve algum fracasso?
CR Investi muito como produtora para trazer a montagem de "A Pequena Loja dos Horrores dos Estados Unidos para o Brasil". Deu tudo errado. Perdi dinheiro. Entrei no elenco para ver se a coisa melhorava, mas não adiantou. Amarguei o prejuízo. É chato, claro.Talvez o único lado interessante do fracasso seja o de unir as pessoas. O sucesso, ao contrário, desagrega.

MC Recentemente, qual foi sua melhor compra?
CR Não estou a serviço do dinheiro. Penso que ele existe para me servir e não o contrário. Acho uma energia perigosa. Não brinco, tenho respeito. O meu dinheiro é muito suado. Minha vida não está ganha, como tantos imaginam.

MC Recentemente, qual foi sua melhor compra?
CR Um apartamento em São Paulo. Edson e eu já tínhamos uma casa na cidade há 12 anos, porque trabalhamos muito por lá. Mas esse apartamento é só meu.

MC Você já usou drogas?
CR Nunca usei drogas ilícitas. Mas fumei dos 12 aos 24 anos. Eu saía de cena sem ar. Uma noite, sonhei que estava com enfisema pulmonar. Procurei um acupunturista e ele disse que me faria parar em dez dias. Tive crises de abstinência, minhas mãos tremiam, mas nunca mais fumei.

MC Com quem você faz mais amizade: homens ou mulheres?
CR Sempre tive grandes amigos homens, eles são mais objetivos. Para ser minha amiga tem de pensar um pouco como homem. Mulher, às vezes, é chata e eu não gosto muito de nheco-nheco. Eu só sou mulherzinha na hora de cuidar da casa e, claro, agradar o meu bofe.

MC Aos 46 anos, sua pele é perfeita. Teme envelhecer?
CR Minha pele é herança genética. Minha mãe, hoje com 90 anos, ainda tem a pele lisa. Eu morro de medo é de ficar com cara de meia esticada, sem conseguir mexer um músculo, por isso não faço preenchimento nem Botox. Para dar uma levantada no rosto, fiz aplicações com um aparelho chamado Ulthera que reduz a flacidez. Eu gostaria de envelhecer lindamente, como a Christiane Torloni. E quase morri ao ver a Jane Fonda no Oscar. Você enxerga a idade dela, mas percebe que ela se trata muito bem.

MC É a favor das plásticas?
CR Eu já fiz uma, no nariz. O antigo era um erro na minha vida, abrutalhava as minhas feições.

MC Você continua uma malhadora compulsiva?
CR Sou uma bailarina, não posso parar. Hoje mesmo, antes de vir para o trabalho, fiz uma aula de balé, outra de sapateado e mais 25 minutos de step.Também faço musculação três vezes por semana. Venho de uma família de diabéticos e com obesidade mórbida. Adoro comer, mas tenho 46 anos, o meu metabolismo já não é o mesmo. A equação agora é comer menos e malhar mais.

MC De qual palavrão você mais gosta?
CR Puta que pariu! Porque é sonoro. Também gosto de soltar uns palavrões em espanhol. É tão superlativo que fica engraçado (ela exclama): puta madre de dios!

MC Qual é a sua memória mais preciosa?
CR O nascimento dos meus filhos, sem dúvida. Com eles, entendi o que vim fazer neste mundo. Nada supera esse milagre. Dar à luz é o maior aplauso da vida.

MC Já fez loucuras por amor?
CR Não sou muito de loucuras. Mas uma delas deve ter sido meu casamento em plena Igreja da Candelária com (o ator) Alexandre Frota. E ainda anunciei no Programa do Chacrinha! Foi uma grande prova de amor. Mas eram os anos 80, tudo era exagerado.

MC Plano para o futuro?
CR Já estou em fase de produção do espetáculo "Crazy for You", com músicas de George Gershwin. Será o primeiro musical de sapateado no formato da Broadway dos anos 50 a ser montado aqui no Brasil. Jarbas e eu estrearemos no teatro no final de outubro.

MC Que fim você gostaria para sua personagem Lívia Marini?
CR Quero que ela seja torturada, presa e sofra por amor. Esse é um grande castigo para uma mulher.

Fonte: Marie Claire