Há 30 anos desfilando pela Beija-Flor, a atriz Claudia Raia diz que sua relação com a escola de Nilópolis “não é rasa”. “A Beija-Flor é uma escola de comunidade, tem poucos artistas e eu sou a mais antiga deles. A minha relação com a escola não é de Carnaval, é de vida”, argumenta Claudia, que, como mestre de cerimônia, será a primeira integrante da Beija-Flor a pisar na Sapucaí no desfile de amanhã.
No papo, Claudia falou, também, de sua personagem Lívia, de ‘Salve Jorge’, e da polêmica cena em que a vilã mata Jéssica (Carolina Dieckmann) com uma injeção letal. “Aquilo realmente existiu. Foi muito difícil (ouvir o depoimento de pessoas traficadas na vida real), passei três dias em casa com depressão”, conta a atriz, que emprestou seu sapato Dior para a cena.
Autores preferidos, beleza na atual idade, o namorado, o ator Jarbas Homem de Mello, e o ex-marido Edson Celulari também são assuntos na entrevista com a atriz que você lê agora.
O que a Beija-Flor tem que as outras escolas não têm?
Estou na Beija-Flor há 30 anos e minha relação com a escola não é rasa. Tenho uma ligação forte com a comunidade, sempre estou em Nilópolis, nos ensaios. A Beija-Flor é uma escola de comunidade, tem poucos artistas e eu sou a mais antiga deles. Não estou desmerecendo as outras escolas, adoro ver os artistas desfilando na Grande Rio, por exemplo. Mas a minha relação com a Beija-Flor não é de Carnaval, é de vida.
Você aceitaria sair como destaque?
Já fui convidada para ser rainha de bateria, mas nunca aceitei, porque eles levam isso muito a sério. Na Beija-Flor, a rainha de bateria trabalha duro o ano todo. E eu, definitivamente, não tenho tempo, faço 20 mil coisas ao mesmo tempo. Não seria justo.
Dá pra estar presente o tempo todo?
Nem sempre eu saio, às vezes são meus únicos cinco dias de férias coincidindo com o Carnaval. Mas estando ou não na Sapucaí, meu coração sempre está na Avenida. Contribuo muito para a Beija-Flor, me pedem opinião, eu digo o que acho. Minha relação com a escola é realmente muito forte.
Como será a sua fantasia à frente da comissão de frente?
Venho de princesa guerreira e a comissão fala de São Jorge. A roupa vermelha é um maiô com uma saia e foi feita pelo Henrique Filho, um estilista espetacular. Vai ser uma honra, serei a primeira a pisar na Avenida quando o desfile abrir.
Qual é a diferença entre uma vilã que é vilã (a Lívia, de ‘Salve Jorge’) e uma vilã que, na verdade, era vítima na trama (a Donatela, de ‘A Favorita’)?
Não sei dizer as diferenças, a grande loucura de tudo é se reinventar em 30 anos de carreira e de Globo. A Lívia é fora de tudo que eu fiz. Diziam que a personagem é engessada, mas tudo isso foi pensado pela Gloria (Perez, autora da trama), porque a Lívia é estranha, cortadora de pescoço, dúbia, falsa, bege. Eu sou o oposto: alegre e espalhafatosa.
Você gosta das vilãs?
Gosto. As vilãs te dão possibilidade de ter ação, estão sempre em confronto com o bem e criam os acontecimentos na trama. Mas eu acredito que ninguém é totalmente bom nem totalmente mau. A Lívia vai ter seu momento de queda, provavelmente quando se apaixonar pelo Theo (Rodrigo Lombardi).
Você teve contato com pessoas que foram traficadas na vida real. O que mais te chocou?
Foi muito difícil, passei três dias em casa com depressão depois de ouvir essas pessoas. E tudo o que a gente presenciou está no ar, na novela. A Gloria não é louca, tudo aquilo que está em ‘Salve Jorge’ aconteceu de verdade. Ninguém consegue dimensionar a gravidade disso. Pessoas que ficam 20 anos em silêncio, com medo, carro preto passando na sua porta, famílias inteiras mortas…
E a polêmica injeção letal da Lívia na Jéssica (Carolina Dieckmann)?
Pois é, falaram tanto da injeção letal, e ela realmente existiu. Nós falamos com a mãe da menina, nunca vou esquecer do depoimento dessa mulher. Aconteceu numa sala, na Alemanha, e a menina ficou ali, nua, morta, naquele gelo. Acharam que era overdose, mas depois descobriram que era a injeção. É um dos métodos que eles (os traficantes de pessoas) usam para não deixar rastros.
E aquele sapato que você usa em cena e que fez com que a Jéssica reconhecesse a Lívia, é seu?
O sapato é meu, é um Dior que tenho há uns cinco anos e emprestei para a novela. É uma joia! Precisava de um sapato fora da realidade para aquela cena.
E o batom que a Lívia usa e é um sucesso?
Esse é da novela. É da marca MAC, foi a maquiadora que sugeriu, queria uma boca mais forte. Esse batom vai voltar quando tiver uma virada na trama.
A Gloria (Perez) já tinha avisado que, por conta do elenco grande de ‘Salve Jorge’, alguns personagens apareceriam mais em alguns momentos e menos em outros. Você sentiu que a Lívia passou por isso?
A Lívia passou um pedaço da novela com menos ação, mas era a estratégia da Gloria, justamente para dar uma virada com a personagem. Ela (a autora) precisava disso para fazer a Lívia entrar com tudo. Agora, é um confronto da Lívia com todas as tramas da novela. ‘Salve Jorge’ fez três meses agora: o luto da novela anterior passa e as pessoas começam a acompanhar a história atual com mais atenção.
Quem são os seus autores preferidos?
Meu grande amor é o Silvio de Abreu, meu pai artístico e meu amigo pessoal. Nos encontramos muito, meus filhos o chamam de vovô Silvio (risos). Mas me dou bem com vários autores. Estou adorando trabalhar com a Gloria, era uma promessa de nós duas fazermos algo juntas. Amo o João Emanuel Carneiro, gosto muito do Walcyr (Carrasco). São muitos!
Você não fica cansada de trabalhar de segunda a segunda (no Rio durante a semana, com ‘Salve Jorge’ e em São Paulo nos fins de semana com o espetáculo musical ‘Cabaret’)?
Estou muito cansada, sim, mas também muito feliz. E o ‘Cabaret’ vai parar no dia 24 de fevereiro. Aí, vou a São Paulo nos fins de semana, mas sem precisar trabalhar. Tenho uma casa lá também, mas fico mais no Rio.
Qual é o musical que você ainda quer fazer?
Muitos! Mas comprei os direitos de ‘Crazy For You’, que deve estrear em outubro e terá o Jarbas (Homem de Mello, namorado de Claudia) como protagonista. Ele sapateia horrores! Comprei também o ‘Singing in the Rain’ (‘Cantando na Chuva’), que vamos fazer em 2014.
Existe alguma pressão para que o Jarbas faça televisão?
De jeito nenhum! Ele é um dos maiores artistas brasileiros, tem 20 anos de carreira, tem sua independência e nunca precisou de mim para nada. Ele faz o que chamarem, mas não tem essa coisa de só achar que a vida vai acontecer quando estiver na televisão.
Você acha que está mais bonita agora, aos 46 anos?
Sabe que eu acho?! Eu estava me vendo em ‘Rainha da Sucata’, no canal Viva, e pensei: “Bem melhorei, hein?!” (risos). Acho que tá rolando uma coisa vinho, fica melhor conforme o tempo passa.
Você é vaidosa?
Sou, mas no ponto certo. Não sou doente, não fico me olhando no espelho o tempo todo, não quero ver a cena que acabei de gravar. Acho tudo isso uma chatice!
E como está sua relação com o Edson (Celulari, com quem a atriz foi casada por 17 anos)?
Nunca foi ruim. É ótima. Edson é o homem da minha vida, eu o respeito profundamente, além de ele ser um pai maravilhoso. Quero estar em harmonia com ele para sempre.
Fonte: Coluna Leo Dias