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23 de julho de 2012

Revista Regional

Em 1989, compromissos profissionais – ela iria começar a gravar uma novela – impediram Claudia Raia de aceitar o convite para protagonizar a até então única montagem brasileira de um dos musicais mais bem-sucedidos de todos os tempos. Mas, desde aquele momento, o desejo ficou adormecido. Dar vida à prostituta Sally Bowles, estrela de “Cabaret”, transformou-se em um sonho: a história é tão marcante para esta campineira, que ela já havia assistido ao espetáculo em Londres, Buenos Aires e Nova York. Isto sem contar as cerca de 30 vezes em que viu ao longa-metragem de mesmo nome.


“Dizem que os personagens também caçam seus intérpretes. Foram anos de perseguição recíproca e algumas oportunidades se desenharam, mas os direitos estavam sempre com alguém. No ano passado, quando eles foram liberados, eu e o Sandro Chaim [que assina a produção, em parceria com a atriz] corremos para adquiri-los”, lembra Claudia, após admitir que, apesar de ser impossível fugir das referências – a versão para o cinema culminou com a consagração de Liza Minnelli – ela procurou construir uma Sally que tivesse a sua assinatura.


O diretor José Possi Neto acredita que, na contramão de outros musicais – que, normalmente apresentam enredos mais leves –, “Cabaret” se destaca pela densidade da sua história, que retrata “seres mundanos da noite num momento em que a raça humana estava à beira do abismo”. A trama tem como pano de fundo a Alemanha transformada pela ascensão do Partido Nacional Socialista, onde judeus e minorias são acuados e o mundo vive a tensão de uma iminente Segunda Guerra Mundial.


Tudo acontece em 1931, numa decadente casa noturna de Berlim, o Kit Kat Club. É neste cenário que se desenvolve o romance entre a prostituta e o escritor americano Cliff Bradshaw, encarnado pelo jovem ator Guilherme Magon, de apenas 25 anos. Paralelamente, há ainda a relação entre uma alemã tolerante, Fräulein Schneider (vivida pela atriz Liane Maya), e um judeu, Herr Schultz (Marcos Tumura, protagonista de diversos musicais, entre eles Les Miserables e Miss Saigon).


A versão cinematográfica, onde a personagem de Liza Minnelli é uma desvairada cantora de cabaré, é mais leve do que a do texto original, que a retrata como uma cativante, porém traiçoeira, prostituta em fim de carreira. “Sally é extremamente paradoxal. É adorável, mas ao mesmo tempo também é alcoólatra e histérica. Fora dos holofotes, a vida dela é um desastre absoluto, obrigando-a a usar de suas artimanhas para sobreviver. Ela não é bipolar, é tripolar”, destaca a atriz.


Encantando plateias pelo Brasil…


Se observarmos a repercussão das apresentações pelo mundo, fica fácil de perceber o porquê do encantamento de Claudia e de outros milhões de espectadores: “Cabaret” foi encenado pela primeira vez há exatos 45 anos, a partir do livro de Christopher Isherwood, destacando-se não só por sua competente equipe de criação, mas também por ter sido uma das mais felizes transposições já realizadas do palco para as telas. Se a montagem de Harold Prince para a Broadway conquistou oito prêmios Tony, o filme de Bob Fosse não ficou atrás: levou o mesmo número de estatuetas no Oscar.


No Brasil, a receptividade das plateias não foi muito diferente. Depois de duas indicações ao Prêmio Shell (Melhor Ator Coadjuvante, Jarbas Homem de Mello, e Melhor Iluminação, Paulo Cesar Medeiros) e do sucesso absoluto no Rio de Janeiro eem São Paulo, o espetáculo está percorrendo o país e volta a Paulínia em agosto – trazido, mais uma vez, pela Teatro GT – para uma mini temporada, que será realizada entre os dias 08 e 12 (veja mais informações no final do texto).


Para que tamanho êxito fosse alcançado, Claudia procurou se cercar de profissionais a quem admira. “O Chaim é muito corajoso, vai atrás daquilo que quer fazer. Sempre quis trabalhar com o Possi, que tem uma sofisticação, um bom gosto e um conhecimento da linguagem dos musicais como poucos. O Alonso [Barros, coreógrafo] eu conheço desde o começo da minha carreira, em ‘A Chorus Line’, e é um dos melhores profissionais com quem já trabalhei. Os arranjos feitos pelo Marconi [Araújo, maestro e diretor musical] estão impecáveis”, desmancha-se a atriz.


A adaptação, segundo ela, não poderia ficar a cargo de outra pessoa, senão o ator, produtor e dramaturgo Miguel Falabella. “Tinha certeza de que seria o Miguel. Nós temos um amor comum por este musical e dentre todas as versões maravilhosas dele, esta é a melhor”, garante. O amigo, por sua vez, sintetizou a essência da personagem. “A Claudia faz uma Sally mais madura, sofrida, sem os arroubos da juventude. Uma mulher que não tem tanto tempo assim pela frente”, descreve.


MAIS: Cabaret será apresentado de 08 a12 de agosto (quarta a domingo), no Theatro Municipal de Paulínia, na avenida José Lozano Araújo, 1551. Ingressos podem ser adquiridos na bilheteria do teatro, e pelos sites www.ingressorapido.com.br ou www.bilheteria.com/teatrogt . Informações: (19) 3933-2140 ou www.teatrogt.com.br


Texto Piero Vergílio
Fonte: Revista Regional in Blog Atriz Claudia Raia