Foi Claudia Raia quem perseguiu Sally Bowles ou a personagem que caçou sua intérprete? O que importa é que depois de mais de 30 anos de espera, a atriz conseguiu realizar o antigo sonho de estrelar o musical “Cabaret” que, após cinco meses de sucesso na capital paulista, chega aos palcos do Rio de Janeiro. Com versão brasileira de Miguel Falabella, direção de José Possi Neto e produção de Sandro Chaim – em parceria com a atriz –, o espetáculo recebeu duas indicações ao Prêmio Shell (Melhor Ator Coadjuvante, Jarbas Homem de Mello, e Melhor Iluminação, Paulo Cesar Medeiros).
Ambientada no Kit Kat Club, uma decadente casa noturna em Berlim, em 1931, a trama, baseada no livro de Christopher Isherwood, gira em torno do relacionamento da inglesa Sally com o escritor americano Cliff Bradshaw, encarnado pelo ator Guilherme Magon, de 25 anos. Paralelamente ao romance entre os personagens principais há a relação entre uma alemã tolerante, Fräulein Schneider (vivida pela atriz Liane Maya), e um judeu, Herr Schultz (Marcos Tumura). O elenco conta com 21 atores e uma orquestra de 14 músicos, regida em cena pela maestrina Beatriz de Luca.
Encenado pela primeira vez há 45 anos, com texto de Joe Masteroff, música de John Kander e letras de Fred Ebb, “Cabaret” se tornou um dos musicais de maior sucesso de todos os tempos. A montagem de Harold Prince para a Broadway conquistou oito prêmios Tony e virou filme, dirigido por Bob Fosse. A versão para telona não ficou atrás: levou o mesmo número de estatuetas no Oscar e consagrou Liza Minnelli no papel principal.
Em entrevista exclusiva ao Globo Teatro, Claudia Raia revela a importância deste espetáculo em sua carreira, conta como é produzir uma montagem tão grandiosa e avalia a evolução dos musicais no cenário brasileiro.
O que a Sally representa para você?Representa muito, persegui essa personagem durante 20 anos, é quase uma corrida no estilo Tom & Jerry. Meu encantamento por ela começou desde que o filme “Cabaret” foi feito. Eu era adolescente e sonhava em estar naqueles números musicais. Acho que assisti ao filme umas 30 vezes e vi seis montagens diferentes. Em 1989 fui convidada pelo diretor Jorge Takla para interpretar a Sally e estava crente que meu sonho seria realizado, mas por conta de uma novela não consegui conciliar. Na época de “A Favorita” aconteceu a mesma coisa! Então, resolvi correr atrás dos direitos da peça e participar de todo o processo dela. A Sally que faço é inspirada na original, baseada no livro de Christopher Isherwood. Costumo defini-la como uma facada no estômago porque é uma prostituta baixa, sombria, alcoólatra, que tenta ser livre em uma Berlim dos anos 20 e 30. Ela não é bipolar, é quadripolar! Essa personagem cheia de possibilidades é um prato cheio de spaghetti ao molho sugo, uma delícia! É um trabalho difícil de ser feito porque o personagem te instiga e te provoca.
Como é a Cláudia produtora?Sou muito exigente com acabamento, cenário, figurino e organização. O mínimo que um produtor deve fazer é dar o melhor para o público. O produtor é uma grande mãe, é o comandante do barco e, nesse barco, comando entre 80 e 100 pessoas. É um serviço árduo, mas tenho sorte por ter uma equipe excelente ao meu lado. Teatro é um trabalho artesanal, feito a várias mãos, coitado daquele que pensa que pode fazer qualquer coisa sozinho. O que rege o teatro é a paixão. Eu e minha filha vimos “This is It”, o filme sobre Michel Jackson, e ela disse: “Mãe, você é igual a ele, se mete em tudo”! (risos).
Como está sendo a experiência de trabalhar pela primeira vez com o José Possi Neto?Estou adorando. Ele é um homem cultíssimo, fez um laboratório maravilhoso com a gente. O espetáculo é muito preciso por causa dele. O Possi está em todos os lugares ao mesmo tempo, acompanha tudo, é uma virtude e tanto. Ele dirige com mãos firmes e não abandona o espetáculo, está presente na maioria das apresentações. Não é fácil encontrar alguém com essa genialidade, sensibilidade e humildade. Estamos namorando há uns 20 anos, sempre achamos que um é a cara do outro, mas só agora conseguimos trabalhar juntos.
Você tem dez figurinos nesse espetáculo. Como são as roupas da sua personagem?
O Fábio Namatame é um gênio, há anos queria trabalhar com ele. É um figurino difícil e ele fez um trabalho lindo. Ele juntou o contemporâneo imerso nos anos 30, o que faz com que o figurino não fique com cara de velho. Ele brincou com as cores. No primeiro número ele coloca todo mundo de preto e pincela o vermelho nos lugares mais inacreditáveis, parece uma tela. A Sally começa o espetáculo de rosa e à medida que ela vai decaindo na vida, as roupas vão escurecendo.
Como você avalia a evolução dos musicais no teatro brasileiro?Fiz o meu primeiro musical há 27 anos, dirigida pelo Walter Clark. Comecei no teatro de revista e sempre que podia tentava inserir o número de um musical. Tinha certeza que esse gênero seria bem aceito no Brasil, somos um povo muito rítmico, não tinha como dar errado. Pra montar um musical, a gente quase pegava gente na rua pra participar porque não tinha elenco, as pessoas não tinham preparação para isso. Fico orgulhosa de ver que esse gênero virou mania nacional. Hoje, podemos ter dez musicais em cartaz ao mesmo tempo porque temos profissionais capacitados para isso e um público que gosta de assistir. Fico muito feliz em ver que pude contribuir com esse crescimento e continuo contribuindo. O bacana é que fazemos musicais do nosso jeito brasileiro que não devem nada aos lá de fora, os americanos vêm pra cá assistir e ficam abismados com a qualidade do nosso trabalho.
Ambientada no Kit Kat Club, uma decadente casa noturna em Berlim, em 1931, a trama, baseada no livro de Christopher Isherwood, gira em torno do relacionamento da inglesa Sally com o escritor americano Cliff Bradshaw, encarnado pelo ator Guilherme Magon, de 25 anos. Paralelamente ao romance entre os personagens principais há a relação entre uma alemã tolerante, Fräulein Schneider (vivida pela atriz Liane Maya), e um judeu, Herr Schultz (Marcos Tumura). O elenco conta com 21 atores e uma orquestra de 14 músicos, regida em cena pela maestrina Beatriz de Luca.
Encenado pela primeira vez há 45 anos, com texto de Joe Masteroff, música de John Kander e letras de Fred Ebb, “Cabaret” se tornou um dos musicais de maior sucesso de todos os tempos. A montagem de Harold Prince para a Broadway conquistou oito prêmios Tony e virou filme, dirigido por Bob Fosse. A versão para telona não ficou atrás: levou o mesmo número de estatuetas no Oscar e consagrou Liza Minnelli no papel principal.
Em entrevista exclusiva ao Globo Teatro, Claudia Raia revela a importância deste espetáculo em sua carreira, conta como é produzir uma montagem tão grandiosa e avalia a evolução dos musicais no cenário brasileiro.
O que a Sally representa para você?Representa muito, persegui essa personagem durante 20 anos, é quase uma corrida no estilo Tom & Jerry. Meu encantamento por ela começou desde que o filme “Cabaret” foi feito. Eu era adolescente e sonhava em estar naqueles números musicais. Acho que assisti ao filme umas 30 vezes e vi seis montagens diferentes. Em 1989 fui convidada pelo diretor Jorge Takla para interpretar a Sally e estava crente que meu sonho seria realizado, mas por conta de uma novela não consegui conciliar. Na época de “A Favorita” aconteceu a mesma coisa! Então, resolvi correr atrás dos direitos da peça e participar de todo o processo dela. A Sally que faço é inspirada na original, baseada no livro de Christopher Isherwood. Costumo defini-la como uma facada no estômago porque é uma prostituta baixa, sombria, alcoólatra, que tenta ser livre em uma Berlim dos anos 20 e 30. Ela não é bipolar, é quadripolar! Essa personagem cheia de possibilidades é um prato cheio de spaghetti ao molho sugo, uma delícia! É um trabalho difícil de ser feito porque o personagem te instiga e te provoca.
Como é a Cláudia produtora?Sou muito exigente com acabamento, cenário, figurino e organização. O mínimo que um produtor deve fazer é dar o melhor para o público. O produtor é uma grande mãe, é o comandante do barco e, nesse barco, comando entre 80 e 100 pessoas. É um serviço árduo, mas tenho sorte por ter uma equipe excelente ao meu lado. Teatro é um trabalho artesanal, feito a várias mãos, coitado daquele que pensa que pode fazer qualquer coisa sozinho. O que rege o teatro é a paixão. Eu e minha filha vimos “This is It”, o filme sobre Michel Jackson, e ela disse: “Mãe, você é igual a ele, se mete em tudo”! (risos).
Como está sendo a experiência de trabalhar pela primeira vez com o José Possi Neto?Estou adorando. Ele é um homem cultíssimo, fez um laboratório maravilhoso com a gente. O espetáculo é muito preciso por causa dele. O Possi está em todos os lugares ao mesmo tempo, acompanha tudo, é uma virtude e tanto. Ele dirige com mãos firmes e não abandona o espetáculo, está presente na maioria das apresentações. Não é fácil encontrar alguém com essa genialidade, sensibilidade e humildade. Estamos namorando há uns 20 anos, sempre achamos que um é a cara do outro, mas só agora conseguimos trabalhar juntos.
Você tem dez figurinos nesse espetáculo. Como são as roupas da sua personagem?
O Fábio Namatame é um gênio, há anos queria trabalhar com ele. É um figurino difícil e ele fez um trabalho lindo. Ele juntou o contemporâneo imerso nos anos 30, o que faz com que o figurino não fique com cara de velho. Ele brincou com as cores. No primeiro número ele coloca todo mundo de preto e pincela o vermelho nos lugares mais inacreditáveis, parece uma tela. A Sally começa o espetáculo de rosa e à medida que ela vai decaindo na vida, as roupas vão escurecendo.
Como você avalia a evolução dos musicais no teatro brasileiro?Fiz o meu primeiro musical há 27 anos, dirigida pelo Walter Clark. Comecei no teatro de revista e sempre que podia tentava inserir o número de um musical. Tinha certeza que esse gênero seria bem aceito no Brasil, somos um povo muito rítmico, não tinha como dar errado. Pra montar um musical, a gente quase pegava gente na rua pra participar porque não tinha elenco, as pessoas não tinham preparação para isso. Fico orgulhosa de ver que esse gênero virou mania nacional. Hoje, podemos ter dez musicais em cartaz ao mesmo tempo porque temos profissionais capacitados para isso e um público que gosta de assistir. Fico muito feliz em ver que pude contribuir com esse crescimento e continuo contribuindo. O bacana é que fazemos musicais do nosso jeito brasileiro que não devem nada aos lá de fora, os americanos vêm pra cá assistir e ficam abismados com a qualidade do nosso trabalho.
Fonte: Globo Teatro