menu

1 de julho de 2009

Espetáculo 5 X Comédia_1999




Nos bastidores do espetáculo 5 X Comédia, os atores Miguel Magno, Claudia Raia, Diogo Vilela, Luiz Fernando Guimarães e Patrícia Travassos revelam um dia de sua divertida intimidade

Por Gustavo Maia e Lilian Amarante

A cena é real e já se repetiu várias vezes. No teatro lotado, a platéia espera o começo da peça 5 X Comédia. Na coxia, um dos atores chega atrasado. Ele está bêbado, tenta tirar a roupa, mas é levado pelo camareiro. Pânico geral? Não, estão todos gargalhando. É que o bêbado da cena é, na verdade, Diogo Vilela. Ou melhor, seu personagem por trás da cortina, uma sexta e desconhecida comédia do show. "É um personagem paralelo, um bêbado que criei e dá baixaria. Um artista que dá trabalho, sabe?", explica Diogo a Gente, no dia em que a trupe abriu pela primeira vez sua rotina dentro e fora do palco.

O encontro com os cinco atores aconteceu na sexta-feira 17, em mais um final de semana de apresentações, o quarto desde que o 5 X Comédia aterrissou na casa de shows Tom Brasil, em São Paulo. Reunindo estrelas de primeira grandeza - Diogo Vilela, 41 anos, Luiz Fernando Guimarães, 49, Claudia Raia, 32, Patrícia Travassos, 47, e Miguel Magno, 48 - o espetáculo já foi visto por 180 mil pessoas desde sua primeira montagem, em 1995. As histórias e os intérpretes foram se revezando. Da primeira vez estavam no palco Pedro Cardoso, Andréa Beltrão, Denise Fraga, Miguel Magno e Luiz Fernando Guimarães. Quando o projeto foi retomado, Débora Bloch e Fernanda Torres substituíram Denise Fraga e Andréa Beltrão, e Diogo Vilela foi para o lugar de Pedro Cardoso. Mas a gravidez de Fernanda e o excesso de trabalho de Débora mudaram o elenco mais uma vez, colocando em cena Claudia Raia e Patrícia Travassos. Desde a década de 70, esses atores têm suas vidas entrelaçadas ora pelo grupo teatral Asdrúbal Trouxe o Trombone, ora pelo TV Pirata, que foi ao ar de 1988 a 1990, na Globo. São todos famosos, talentosos, piadistas e, sobretudo, amigos, o que transforma os bastidores da peça numa divertida comédia.

PRIMEIRA COMÉDIA

"A Regina Casé invadiu o camarim, virou para mim e disse: 'Eu quero ser sua amiga - acho que era 1978 - você é maravilhoso, eu tenho que te apresentar um amigo meu. Você tem tudo a ver com ele e vocês dois vão se dar muito bem. O nome dele é Diogo Vilela'." Miguel Magno

Passa das 9h. O ator Miguel Magno espera o velho amigo Diogo Vilela para tomar o café da manhã no restaurante de um hotel da zona sul de São Paulo. Ele havia deixado a casa da mãe e da irmã, com quem vive, para se hospedar no mesmo lugar que o restante do elenco. A estratégia é da produção do 5 X Comédia, que faz questão de deixar o grupo reunido nos finais de semana de apresentação. Além de Miguel e Diogo, chegarão mais tarde, do Rio de Janeiro, Luiz Fernando Guimarães e Patrícia Travassos. Apenas Claudia Raia quebra a regra - ela prefere ficar no conforto do apartamento que mantém na capital paulista.

Às 10h30, Diogo, atrasado, chega para o café. Entre um suco e uma torrada, eles falam da amizade profetizada pela atriz Regina Casé. "A Regina tinha razão, nós nos parecemos muito", diz Magno. Enquanto Miguel rebate o mau humor matinal com café, florais de reequilíbrio e música - na mesinha do quarto estão CDs de Ella Fitzgerald e Paulinho da Viola -, Diogo vai direto ao assunto, ou melhor, ao analista. "O Diogo acha que eu sou o mais existencialista, o Sartre da turma, mas é ele quem vai a análise", debocha Miguel Magno. Mesmo morando no Rio, Diogo tem um analista só para os dias em que está em São Paulo. Se ficar na cidade por três dias, vai três vezes para o divã.

A amizade traz cumplicidade. O que, quase sempre, faz da turma de amigos um Clube do Bolinha. Dá para imaginar o que significa a entrada de um novo ator no elenco? "A gente não pode quebrar a harmonia que já existe, por isso fazemos tudo na base do voto", explica Diogo. O candidato tem que aceitar dividir o sucesso com os outros quatro e ter um estilo de humor parecido com o dos demais. "O Luiz Fernando é o que mais critica. Se alguma coisa está errada, ele fala na cara", diz Miguel, que no palco é o primeiro a se apresentar. Ele faz um ex-fumante desesperado. Diogo Vilela faz um comissário de bordo neurótico, prestes a cometer suicídio. Os dois são dirigidos por Marcus Alvisi.

SEGUNDA COMÉDIA

"Uma vez, na época do Asdrúbal, estávamos apresentando o Trate-me Leão em uma cidade do Paraná. Passava cavalo nas ruas e o público tinha sotaque carregado. No meio da peça, o Luiz começou a adaptar as gírias cariocas ao linguajar local, todos nós entramos na brincadeira e eu ri tanto que fiz xixi no palco." Patrícia Travassos

Às 15h, Patrícia Travassos desarruma a mala no quarto. De dentro saem um xale de oncinha, um incenso de canela, muita roupa preta e três deslocados pares de sandálias de verão, entre outras coisas. "Disseram que fazia calor nessa cidade", diz ela, que acaba de chegar do Rio de Janeiro com Luiz Fernando Guimarães. Ao lembrar do episódio do xixi no palco, ela ainda cai na gargalhada. Mais ainda, ao tirar uma sandália de salto trazida especialmente para agradar Claudia Raia. "Ela vive me dizendo para usar um salto", brinca.

O relacionamento entre as duas começou na época do TV Pirata. Hoje, elas dividem o camarim mais animado. "A Patrícia é a nossa intelectual sem óculos e a Claudia é a mais glamourosa. A gente sempre espera para ver com que modelo ela vai aparecer", diz Diogo Vilela. Claudia completa: "Aqui a gente perde o amigo, mas não perde a piada".

Roteirista de tevê desde o extinto Armação Ilimitada, exibido na Globo nos anos 80, atriz e apresentadora do Alternativa Saúde, no GNT, Patrícia Travassos abusou de sua polivalência no 5 X Comédia. Pela primeira vez, ela interpreta um texto de sua autoria - a história de uma mãe descasada e louca por um novo amor - e em tempo recorde. "Tive dez dias para adaptar e ensaiar", diz.

TERCEIRA COMÉDIA

"Estreei numa sexta-feira. No sábado, o Enzo, meu filho de dois anos e meio, veio ao teatro assistir à peça com o pai (Edson Celulari). Quando eu chorei no palco, ele começou a chorar também e disse: 'mamãe chorando, mamãe chorando'. Até hoje, foi o único espectador da peça que chorou." Claudia Raia

São 19h e Claudia Raia já ligou três vezes para o Rio. Queria saber de Enzo. Ela diz ser uma mãezona quando não está trabalhando. "Faço questão de levá-lo à escola e acompanhar cada novidade da sua rotina", diz ela. Mas só os títulos de a mais maternal e glamourosa do pedaço seriam uma injustiça diante da dedicação emprestada ao trabalho. Ela é, sem dúvida, a mais aplicada do espetáculo. Enquanto Miguel e Patrícia optavam entre natação ou sauna e Luiz Fernando cochilava no hotel, Claudia estava a postos às 14h no Tom Brasil, ensaiando. "Sou insuportável, porque acho sempre que não está bom e que eu posso melhorar", explica. Entre o ensaio e a apresentação, ela passa duas horas em casa tentando relaxar. Na sexta-feira, não conseguiu. "Fiquei pensando na personagem que havia acabado de modificar", disse. Quando foi convidada a substituir Fernanda Torres, pediu a Miguel Falabella um texto inédito. Ele foi rápido, escreveu em cinco dias, mesmo assim faltou tempo. Em 20 dias de ensaio, o autor e diretor e a atriz deram vida à dona de casa que trafica drogas nas gôndolas de supermercado. "Não escondo que foi uma das coisas mais difíceis que eu já fiz na vida", diz.

QUARTA COMÉDIA

"No final dos anos 70 conheci o Diogo e, em alguns meses, já dividíamos um apartamento. Ele ficou sem receber a correspondência por um tempo e veio me perguntar o que estava acontecendo. Eu disse: 'Não peguei nada seu, mas faz uns três meses que chega carta para um tal de José Carlos'. Eu não sabia que o nome verdadeiro do Diogo era José Carlos." Luiz Fernando Guimarães

Às 18h, Luiz Fernando Guimarães acorda com um pique invejável, depois do sono cronometrado de uma hora e meia no hotel. Ele calça um par de tênis e vai para a academia, onde o personal trainer Rogério o espera sempre que está em São Paulo. Quem melhor define o estilo fitness do ator é a amiga Patrícia Travassos: "O Luiz é do tipo malho, logo existo", brinca. Triatleta desde 1993, nem em dia de espetáculo ele pára, apenas troca as seis horas de exercícios diários por 40 minutos de bicicleta - ele ainda precisa de fôlego para apresentar uma peça. Acompanhado por Diogo, ele pedala enquanto fala do relacionamento e das afinidades com o resto da turma. "O grande barato de fazer o 5X Comédia é poder trabalhar com o amigo que janta na sua casa. Nesta semana, o Miguel e o Diogo vão ficar alguns dias no meu sítio", diz Luiz Fernando. Divide o sítio, mas não a parede do quarto - ele é o único a pedir um apartamento isolado para manter sua individualidade. "Ele tem um ritmo próprio, é acelerado", diz a produtora Alessandra Reis.

Fim de papo e de exercício, Luiz vai direto para o teatro. No palco, com texto e direção de Mauro Rasi, ele viverá o stripper Fabrício, candidato do programa Raul Gil, filho de uma maconheira. Um quadro de performance física, com muito movimento - ao gosto do dublê de triatleta.

QUINTA COMÉDIA

"Nos anos 80, moramos juntos eu, o Luiz Fernando e o Alvisi. Fazíamos festa todo fim de semana, mas não tínhamos dinheiro nem para o ônibus. A empregada, Tereza, era quem cuidava da gente. Namorava um coroa cheio da grana e, no fim, pagava até nosso supermercado." Diogo Vilela

São 20h30, quando todos, finalmente, estão juntos no teatro. Diogo Vilela chega a tempo para ver no camarim exclusivo o último capítulo da novela Suave Veneno, na qual interpretava Uálber. No corredor ao lado, Claudia Raia já está na maquiagem. Para alegria da galera, ela veio finíssima: calça e sapatos Gucci. Patrícia Travassos chega em seguida, de bota sem salto. Reprovação imediata de Claudia, na maior gozação. De uma piada passa-se a outra até que todos estejam em cena para a abertura da peça. É o único momento em que todos dividem o palco, sob roupas de astronautas. Mas até aí tem brincadeira: "Com aquele capacete, aquele teletubbies, a gente não pode se olhar em cena porque cada um tem um ataque de riso", entrega Claudia.

Mas será que nessa história só tem comédia? Com tanta fama, sucesso e talento misturados, é inevitável surgirem sentimentos nada engraçados. "A gente conversa muito sobre isso. Falamos de sentimentos humanos que eu considero terríveis, como inveja e despeito", diz o Sartre da turma, Miguel Magno. E Diogo completa: "É a pior parte e a mais fácil de resolver. A gente gosta do trabalho do outro e por isso tem que aceitar seu sucesso".

Toca o terceiro sinal, concentração, começa o espetáculo de duas horas. Um a um, eles entram em cena, atuam, fazem rir e voltam para receber os aplausos. Tudo terminado, Luiz Fernando Guimarães, o último a sair de cena, ainda vai suar 20 minutos, isolado dos outros, para descansar do personagem. Aí, só Deus sabe quanto tempo vai demorar até a próxima piada. Porque nesse espetáculo, só o público vê cinco comédias. Para esse time de atores, elas são muitas mais. Infinitas vezes comédia.
Fonte:Istoé Gente